





Cheguei de mansinho e instalei-me em ti...
Inicialmente, não deste por nada, a tua vida continuou a decorrer de forma normal, mas eu fui crescendo e ficando mais forte.
Um dia tu notaste que eu vivia em ti, achaste impossível, que poderia haver engano..., ficaste zangada, revoltada e choraste perdidamente... não me querias...., depois mais calma procuraste saber quem era verdadeiramente, porque te tinha escolhido e como te podias ver livre de mim.
Tomaste consciência que eu era persistente, implacável, perigoso, que deixava marcas irreversíveis para a tua vida e que queria medir forças contigo, se não lutasses comigo eu vencia-te facilmente.
Recompuseste-te, encaraste-me, muniste - te de toda a ajuda possível e decidis-te enfrentares-me de forma corajosa, diria mesmo heróica.
Dada a tua valentia eu recuei, alterei a estratégia, e escondi-me, dei mesmo a atender que me fui embora e bati com a porta.
E tu continuas-te a lutar, a investir contra mim... chegaste a pensar que venceste a guerra...., mas era só uma batalha.
Foi então que no meio da escuridão a tua alegria reapareceu, os projectos saíram da gaveta fechada há meses, a esperança num futuro melhor renasceu...
Quando a guerra parecia ganha, eis que reapareço com ar de gozo, mais forte que nunca, não te dando hipóteses e decidido a acabar de vez contigo.
Sentistes novamente a minha presença e isso deixou-te irremediavelmente abalada e triste, mesmo assim vais ao fundo do baú procurar coragem, a que restava... mas eu estava decidido....
Foi então que o verbo viver, para ti, passou a conjugar-se apenas no pretérito. Deixaste de ouvir os passarinhos, pela manhã, chilrear no pátio quando comiam as migalhas de pão, deixaste de ver as camélias vermelhas na Japoneira do teu jardim, os dias, só noite...eram cinzentos e tristes e tu sem conseguir controlar o teu corpo já cansado das batalhas travadas.
Desalentada e exausta arrumaste na gaveta os teus projectos, que eram muitos e aguardaste, de forma resignada pela minha vontade....
Percebeste que nada mais havia a fazer. O rumo a seguir te levará pr’a longe...
- Então, sabes quem eu sou?
- Sou o sarcoma que te vitimou.
12 de Dezembro de 2008