Minha filha,
A tua morte levou parte de mim, como se a minha vida ficasse dividida no antes e no depois à tua partida.
Lembraste como éramos uma família feliz, saudáveis e unidos? As nossas obrigações e responsabilidades tinham sempre prioridade, alguns pequenos dissabores, por vezes também apareciam, mas bastava uma pequena dose de empenhamento e eram facilmente superados. Os projectos que planeávamos, o prazer de partilharmos tarefas juntas, os mais apetecidos eram os programas de férias, os preparativos, as discussões, as confusões das vésperas das partidas, tudo correu sempre às mil maravilhas.
O sofrimento ou a dor profunda nunca esteve previsto, não fazia parte das nossas vidas. Hoje, ao recordar esse tempo parece que tínhamos a família perfeita.
Certo dia, o destino trágico bateu à nossa porta, sem pedir autorização entrou e levou o que eu tinha de mais sagrado, o valioso tesouro que tu escondias, dano que deixou a nossa família irremediavelmente destruída, facto irreversível para o qual eu não estava preparada.
Hoje sinto-me precocemente envelhecida, uma carcaça onde a tristeza, a saudade e a melancolia são residentes permanentes, de acesso restrito e geralmente indesejado pelos outros. Sou hoje mais sensível ao verdadeiro sofrimento do meu próximo, pequenos e simples gestos aprendi a apreciar e a valorizar da pior maneira possível.
- “Tens de viver um dia de cada vez…”
Ouço esta frase vezes sem conta, parece receita instituída para todos os males.
O que quer dizer?
Para não pensar no amanhã, para não criar expectativas, sejam elas falsas ou verdadeiras, que o passado foi bom, mas paciência, já não existe mais, que a vida prega partidas, tenho que me aguentar?
O que perdi Teresinha foi demasiado… e o que resta não compensa.
Particularmente hoje, porque farias mais um ano (24 anos), vou enxovalhar-me nas memórias de tempos idos, vou naufragar… abrir, uma vez mais, as feridas por cicatrizar, chorar lágrimas que já não tenho, fechar os olhos e imaginar o teu belo, inconfundível sorriso, recordar a felicidade do teu jovem rosto, alegre e curioso quando abrias o presentinho, aquela tua meninice que, de forma tão peculiar, se manifestava sempre neste dia fantástico.
13 De Outubro de 2012, dia do teu aniversário
A tua mãe